terça-feira, 4 de setembro de 2012

House, a ex-série

House acabou antes de chegar ao fim. Até a 6ª temporada ainda ganhou uma sobrevida graças ao talento de Hugh Laurie, principalmente. Mas a partir daí a série descambou, perdeu o rumo, o brilho, o seu maior trunfo; quando começou a se tornar um seriado arrastado, como o xexelento Lost, acabou-se o encanto! Que saudades da acidez de G. House, dos embates dele com Foreman (um quase-House, que sempre tentava sê-lo, mas faltava-lhe a fagulha do gênio), do puxasaquismo – e eventual brilhantismo – de Chase, da sensibilidade e delicadeza de Cameron... Sempre digo que uma série deve ser encerrada no auge, para depois restarem apenas as lembranças agradáveis, mas House extrapolou. Uma pena. O jeito é remexer a minha caixa de DVDs e uma vez mais me deleitar com uma seleção de episódios que fizeram desta uma das melhores séries de todos os tempos, antes da melancolia das temporadas subsequentes.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Meia-noite em Paris

Meia-Noite em Paris pegou-me de surpresa: quantas vezes já alardeei aqui e alhures que eu seria mais feliz se tivesse vivido em outra época? Essa é a pergunta que meus botões se faziam há anos e que, depois de sentir a experiência do filme, insiste agora em emudecer. Não por completo, obviamente, mas decerto se despir do saudosismo é uma maneira interessante de tentar se livrar de alguns demônios. Só mesmo Woody Allen para trazer à baila um entrevero como esse, que por longas alvoradas teima em revisitar a nossa mente, deixando-nos com aquela sensação de não lugar, o cronologicamente errado a ditar o quando e o como agir, em detrimento do simples viver o agora... Afinal é para isso mesmo que estamos nessa vida doida de cada dia! Ao mestre, meu muito obrigado por me ensinar a deixar o passado lá, nos recônditos, nas meras e deliciosas lembranças...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Piranha 3D

Quando vi "Piranha" aos 8 anos de idade, fiquei sem dormir direito por três dias. O clássico de Joe Dante de 1978 conseguia incutir medo, principalmente em pessoas que nadavam em “corguinhos”, como eu fiz durante toda a infância.

Bem, dias atrás decidi ver "Piranha 3D", de 2010, e para minha decepção arrebentaram com o clássico... Tudo bem que o novo filme é cheio de mulher gostosa e os quarenta minutos iniciais parecem aquelas festas das casas da Playboy, em que mulheres ficam se esfregando umas nas outras, com os melões de fora e caras de safada... Ok, seria muito legal, bacana, mas se não estivesse num filme que pretende ser trash! Explico: um filme trash não precisa se alongar desnecessariamente em mulherada seminua se esfregando e mostrando o bundão pra câmera, dá um pouco mais de trabalho do que isso.

Afora as mortes grotescas é preciso, de certa forma, cativar o público com personagens carismáticos ou sem noção, o que passa longe de haver nesta coisa aqui. Cito como exemplo o clássico trash "Fome Animal", dirigido por ninguém mais, ninguém menos que o meu, o seu, o nosso Peter Jackson! Ali, tem-se um protagonista extremamente carismático que carrega uma cara de panaca ao longo de todo o filme, indicando que, até mesmo em filmes B, deve-se ter atores com o mínimo de talento e um roteiro aceitável.

Aliás, roteiro é algo que inexiste em "Piranha 3D". Ver Elisabeth Sue, que foi a memorável Sarah em "Leaving Las Vegas", em vã tentativa de levar seu papel (e o próprio filme) a sério é igualmente constrangedor a assistir a um massacre peniano protagonizado pelas algozes do filme ao membro de Jerry O’Connell, mais canastrão do que nunca no seu ridículo personagem. Embora tenha achado péssimo do início ao fim, até que dei algumas boas risadas, mas nada que tenha compensado perder mais 88 minutos do meu precioso tempo. Nem comentarei a respeito do final para não estragar a “surpresa”. Certifiquem-se vocês mesmos e depois me contem...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

1001 filmes para ver antes de morrer

Adquiri recentemente um livro volumoso intitulado 1001 filmes para ver antes de morrer (infelizmente creio que morrerei antes de ver todos, pois são muitos e alguns, extremamente difíceis de encontrar).

Trata-se de um bom guia para quem procura um ótimo filme; as indicações são bem variadas, com produções de todos os gêneros, para todo tipo de público (saudosista, intelectual, clássico, descompromissado etc.), mas é inegável que o editor conseguiu compilar o que há de melhor em termos de cinema, e as indicações estão organizadas por ordem cronológica, com páginas ilustradas, o que deixou o formato bem interessante (apenas ainda não tive a paciência de contar se são realmente 1001 filmes!).

Não poderia deixar de compartilhar, entretanto, um erro bisonho cometido por uma das resenhistas, que escreveu sobre O poderoso chefão. A desavisada, talvez por um lapso, comenta que Don Corleone foi assassinado a tiros, motivo que leva Michael Corleone a realizar sua vendeta(!); oras, eu que deveria cometer uma vendeta contra a figura que escreveu uma bobagem dessas!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

SOS Sicko

Um filme, uma denúncia

Sempre gostei de Michael Moore. Não pelo modo panfletário (e às vezes sentimentaloide) que em alguns momentos imprime à suas denúncias, mas pela relevância das feridas em que toca, derrubando certos preceitos em que, aqui e alhures, os fariseus da política nos fazem acreditar.


Impressionante constatar que o mendaz sistema de saúde estadunidense padece de problemas de fazer "inveja" a qualquer desdito político brasileiro. A gana de empresas de planos de saúde e de laboratórios inescrupulosos é aqui escancarada, compondo um rol de tortura de uma sociedade que se diz democrática, mas que de fato apresenta velados traços de regimes fascistas (aspecto sobre o qual o personagem de Michael Douglas, no filme Wall Street, tece relevante comentário).


Testemunhamos a cobrança de 12 mil dólares por um reimplante de parte de um dedo acidentalmente decepado; vemos o chocante despejo de pacientes com roupas hospitalares no meio do downtown de Los Angeles, em pleno dia; assistimos estupefatos às declarações de políticos americanos tecendo loas aos "heróis do 11 de setembro", mas que são responsáveis por um sistema atroz o qual nega aos heróis tratamentos de problemas de saúde oriundos justamente da ajuda – voluntária – no fatídico ataque terrorista de 2001.


O passeio de Moore pelo Canadá, pela Europa e por Cuba é a prova cabal da ineficiência no provimento de saúde em um país que fez da acumulação do capital e da coação do seu povo sua pedra angular e que vergonhosamente se autointitula um país livre; isso a certa altura é sintetizado nas sábias palavras de uma cidadã americana que reside na França: “aqui, o governo tem medo do povo; nos EUA, o povo tem medo do governo.” Bela democracia, seu Tio Sam!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

JCVD

Antes do 3º ato de JCVD, o filme é arrancado de sua esfera ficcional e o protagonista, o próprio Jean-Claude Van Damme, cai em prantos ao refletir sobre passagens de sua vida. Impossível ficar alheio ao sofrimento do sujeito, pela veemência com que realiza uma espécie de desabafo ante sua condição de astro de filmes de artes marciais em franca decadência, derrotado pelas drogas e por problemas de ordem pessoal. E o filme dá mostras dessa decadência logo na primeira tomada, num inteligente exercício de metalinguagem em que vemos um Van Damme sem fôlego para rodar uma cena de ação em sequência única. “Não consigo fazer mais isso, tenho 47 anos”, diz o ator a um diretor asiático que não dá a mínima.

O filme é um bem engendrado relato de passagens ficcionais baseadas em fatos reais da vida do ator belga. O magrebino Mabrouk El Mechri, diretor do longa, opta por uma narrativa fragmentada, ao trabalhar a história sob pontos de vista diferentes, o que foi muito bem recebido pela crítica especializada. A atuação de Jean Claude, também bastante elogiada, deixa de lado a pancadaria descerebrada e os clichezinhos típicos de filmes de artes marciais, elementos pelos quais o ator se tornou, durante anos, um sucesso comercial.

E é exatamente ao mostrar um lado mais humano que Van Damme se destaca nessa pseudoautobiografia, que surpreende não só pelas particularidades do roteiro, como também pela forma como nos é apresentado um ator que, ao longo de sua carreira, não ofereceu nada além de filmes rasteiros repletos de socos e pontapés.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Vick Cristina Barcelona

Woody Allen volta a acertar

Em dado momento de Vick Cristina Barcelona, Juan Antonio, o personagem de Javier Bardem, revela para Vick que o pai dele é um excelente poeta, mas se recusa a publicar seus poemas porque o mundo não os merece. Excelente ponto de partida para compreender o próprio Juan, um homem que parece em extinção atualmente. É interessante analisar esse personagem contrapondo-o ao noivo de Vick, um yuppie, exemplo clássico de pessoa que se esquece de exercitar o lado direito do cérebro, e ao marido de Judy, que questiona Vick sobre a dissertação de mestrado dela. “O que você vai fazer com isso?”; um questionamento extremamente grosseiro. Na míope visão de mundo dele, se não traz benefício financeiro, que vantagem pode trazer? A insatisfação da esposa tem lugar. O macho tosco e insensível, aqui, é de certa forma punido.

Esse diferencial percebido no pintor muitas vezes é interpretado por alguns homens como “viadagem”, mas é algo do qual várias mulheres sentem falta, uma sensibilidade masculina que diferencia um homem dos outros. Cristina, num primeiro momento, é mais astuta e logo percebe que Juan tem esse lado diferente. Vick, por seu turno, talvez assustada com a abordagem inicial agressiva do artista, resiste num primeiro momento, mas depois percebe o mesmo que a amiga, de supetão, percebera. Estava faltando algo no relacionamento dela e ela não tinha ideia do que era; foi descobrir na viagem a Oviedo. Inaugura-se, para ela, um momento de total insegurança com relação aos seus sentimentos e a descoberta de algo que até então nem imaginaria que pudesse ser despertado.

Porém o mesmo diferencial que faz de Juan Antonio uma preciosidade torna-o uma opção alternativa demais, mesmo para a pretensamente liberal Cristina. O retorno da ex-esposa desequilibrada Maria Elena à casa do pintor vai descortinar um lado da personalidade deles, um amor totalmente irracional e por isso mesmo intenso, que pode soar como uma quase afronta aos valores americanos e por extensão aos de Cristina, estabelecendo aí um dilema para ela. O fascínio, entretanto, faz a americana adotar o espírito transgressor de Juan e de Maria e mergulhar num mundo colorido e voltar a atenção a um talento talvez adormecido, talvez inexistente.

Vick Cristina Barcelona é um filme para refletir. Uma reflexão fundada não em escapismos fáceis, mas em elucubrações que tornam as relações humanas complexas, como de fato são. Longe de um tratamento superficial dos sentimentos dos personagens, Allen, como fez em Match Point, consegue extrair o máximo do elenco, mesmo de uma atriz limitadíssima como Scarlett Johansson, em atuações tridimensionais. Ressalva há que se fazer apenas à narração em off, que se mostra redundante em vários momentos e desfaz a magia de algumas sequências que já se autoexplicam.