quinta-feira, 5 de março de 2009

Malcolm X

Poucos filmes conseguem retratar tão fielmente um período crítico da história americana como este Malcolm X. Brilhantemente dirigido por Spike Lee, o roteiro é uma adaptação correta da autobiografia homônima, escrita por Alex Haley, a partir de relatos do próprio Malcolm e de parte do acervo do autor. Nele, descortina-se um dos cenários mais conturbados dos Estados Unidos, época em que o segregacionismo tomava contornos alarmantes, dando vazão ao aparecimento de mártires, como Martin Luther King e o próprio Malcolm Little, este favorável à luta armada e mais tarde convertido ao islamismo, trocando o nome para Malcolm X (o X, acreditava ele, representava o desconhecido, pois suas raízes haviam se perdido quando da ida de seus parentes mais distantes para os EUA). A adaptação fílmica de Lee apresenta perfeita reconstituição de época, alem de contar com um competente elenco de apoio, no qual está o próprio diretor. Não aborda, contudo, a importante aproximação entre Malcolm e o boxeador Cassius Clay (Muhammad Ali).

Apresentando características de um romance de formação, a trajetória do personagem principal de Malcolm X remete a outras personalidades da história do século XX, como Ernesto Che Guevara, que passou de um simples estudante de medicina e jovem alienado a líder político e revolucionário de notoriedade mundial (ver Diários de motocicleta). Aqui, tem-se um homem que recebia o apelido de Red, pelos seus cabelos vermelhos e pela sua fama de homem perigoso, o que motivou alguns a chamá-lo de Satã, passando a um importante e influente líder religioso.

Denzel Washington – numa atuação bastante elogiada por crítica e público – conduz o personagem com paixão, retratando sua infância pobre no Harlem, passando pelos tempos de vadiagem e envolvimento com traficantes, foras-da-lei e bandidos, fato que o fez ser preso e condenado por roubo. Na prisão, Malcolm, um viciado com o qual ninguém se importava, converte-se ao islamismo por Baines (Albert Hall, de Susie e os Baker Boys), o mesmo homem que, anos depois, articulará, juntamente com a Nação do Islam, seu assassinato, num conflito de interesses em que até a CIA esteve envolvida. Impressiona a atuação de Denzel na segunda parte do filme, momento em que Malcolm, já saído da prisão, parte para a pregação nas ruas e nos templos, demonstrando um proselitismo muitas vezes radical em nome de Elijah Muhammad, figura que os muçulmanos negros acreditavam ser um enviado de Alá.

Spike Lee retorna com a sua feroz crítica social, marca indelével desse diretor que fez da luta a favor dos direitos dos negros americanos e temas sobre o racismo o principal fio condutor de alguns de seus filmes, como Febre da Selva (1988) e Faça a Coisa Certa (1989). Aqui, também, existe o toque pessoal do diretor, que descortina sua oposição ante certos preceitos encontrados na sociedade americana ainda nos dias de hoje, em que a fome de poucos impede muitos de comerem o pão, deixando um grande sanduíche de merda no qual esses poucos são obrigados a dar uma mordida.

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