quinta-feira, 5 de março de 2009

Norbit

O disparate de Eddie Murphy

Eddie Murphy já teve dias melhores. Não só porque Norbit é uma tentativa fracassada de reviver os bons tempos em Um príncipe em Nova York e na refilmagem de 1996 de O professor aloprado (filmes em que ele interpreta vários personagens), mas também pelo fato de o ator teimar em aparecer. Só isso explica a concepção de um filme desses.

O problema é que Murphy insiste na fórmula desgastada de executar inúmeros papéis ao mesmo tempo, o que foi engraçado antes, mas agora parecendo já terem se esgotado as possibilidades. Atacando novamente sob essa premissa, o ator nos brinda com a nova bomba, filme com uma inquestionável qualidade de efeitos visuais, principalmente do trabalho de maquiagem, mas com um roteiro clichê do início ao fim, recheado de piadas sem graça e preconceituosas. Está mesmo difícil rir ultimamente, pelo menos assistindo a essas recentes comédias, que em sua maioria exploram personagens com deficiências físicas, abobalhados, obesos, que emitem sonoras flatulências entre outros temas de mau gosto, de forma até mesmo irresponsável em alguns casos. Esse é o buraco em que se meteu a comédia americana nos últimos dez anos.

Se não chega ao fundo do poço, como o constrangedor O pequenino (outra lástima dessa nova leva de invencionices e de falta de capacidade para o cinema de diretores e roteiristas que estariam melhor fazendo outra coisa), a nova pérola de Eddie Murphy está longe de ser uma comédia admirável, pois são escassos os momentos realmente hilários, que se restringem a algumas aparições de Rasputia, a enorme esposa de Norbit (personagem-título que tem o estereótipo do marido boboca, dominado pela mulher controladora). Personagens estereotipados, aliás, não faltam nesse filme: há o chinês boca-suja e rude, o panaca que só se dá mal e no final decide não mais ser passado para trás, a ex-namoradinha-boazinha-magrinha-que-é-um-doce, o grupo de marmanjos mal encarados e trambiqueiros e por aí vai...

Diferentemente do que se vê em O amor é cego, no qual o preconceito está em alguns personagens, em Norbit este é geral. Ataca-se a obesidade, mas também as diferenças étnicas e culturais, além de haver uma glamorização da magreza excessiva: só é seguro quem está dentro do perfil idealizado pelo protagonista. Os realizadores parecem se esquecer de que essa forma de humor é perigosa, principalmente porque, em geral, tais produções não sofrem restrição de censura, tornando-se acessíveis a crianças e incutindo nelas todo tipo de preconceito, por baixo da roupagem de uma simples comédia, de um programa inofensivo de final de tarde.

Sai a sutileza, entra o grotesco; sai a criatividade, entra a repetição. A comédia americana é um gênero em franca decadência. Porcarias como esse Norbit e outras como Cara, cadê meu carro?, Recém-casados, Hitch, A sogra, Eu os declaro marido e... Larry, Matadores de velhinhas, Minha super ex-namorada, Vovó...zona, Duplex além de mais um sem-número de lixos indicam essa tendência, tornando a comédia um gênero menor, algo que não merece a mínima atenção, mesmo daqueles que estão interessados apenas em entretenimento pueril.

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