sexta-feira, 6 de março de 2009

Platoon

Longe do maniqueísmo que costuma infestar os filmes de guerra – notadamente, os filmes americanos – Platoon descortina o lado mais cruel de todo conflito armado: a transformação de pessoas comuns em máquinas de matar, levando o instinto de sobrevivência ao extremo.

Chris Taylor (Charlie Sheen) é um jovem de família abastada, que vê na possibilidade de alistar-se no exército a chance de ir pra guerra e lá deixar de ser um falso ser humano, dando sua contribuição para a pátria. Tal afirmativa poderia até virar uma proclamação de ufanismo, mas aqui não é isso o que acontece devido ao brilhantismo do aclamado roteiro de Oliver Stone, que não dá margem a patriotismos idiotas e vazios. No Vietnam, Chris sente o peso de participar de um teatro de horrores, que o faz, aos poucos, ir perdendo não só as forças, como também a sua própria sanidade (pelas palavras do próprio personagem, em cartas enviadas a sua avó), mas em contrapartida o endurece a ponto de mandar às favas quase todas as suas preocupações.
Adquirindo experiência, o jovem soldado toma dimensão do tamanho da complexidade das relações humanas, uma vez que o próprio pelotão está dividido entre os homens do Sargento Barnes (Tom Berenger, fantástico), grupo de soldados para os quais a guerra não passa de uma carnificina, contra os homens do Sargento Elias (Willem Dafoe, também em inspirada atuação), estes com um lado mais humano a oferecer, numa rixa que, segundo o próprio Chris, colaborou para a derrocada daquele grupamento: "o inimigo éramos nós mesmos".

Stone baseou-se na sua própria experiência no campo de batalha para contar as agruras de uma surra homérica que os Estados Unidos levaram em solo vietnamita, resultando na mais fragorosa derrota durante a guerra fria, sintetizada nas palavras proféticas do Sargento Elias: “perderemos essa guerra, pois subjugamos os povos por tanto tempo que está na hora de sermos subjugados”. Um filme definitivo sobre uma guerra que abalou e mobilizou toda uma geração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário