quinta-feira, 5 de março de 2009

O sol tornará a brilhar

Adaptado da famosa peça de teatro de Lorraine Hansberry, autora também do roteiro, O sol tornará a brilhar (A raisin in the sun, EUA, 1961) é mais uma das incontáveis provas do superior talento de Sidney Poitier.

Poitier, com sua presença magnética, interpreta Walter Lee, filho da senhora Younger, um personagem ressentido pela sua condição de chofer e amargo pelo fato de se sentir injustiçado num mundo em que o dinheiro, cada vez mais, dita a conduta das pessoas. Um homem com um lado humano, entretanto, que tenta persuadir sua esposa e sua mãe a investir o dinheiro do seguro da morte do pai na abertura de um bar (vislumbrando um futuro melhor para sua família), mas tem seu discurso enfraquecido pela negativa da mãe – que se recusa a investir em um negócio sujo, segundo seus preceitos religiosos. Ela adquire uma casa com o montante e intenta utilizar o resto do dinheiro no curso de medicina da irmã mais nova de Walter. Mas a residência situa-se em um bairro de maioria branca, o que inaugurará outro problema que a família terá de enfrentar rumo à conquista do sonho americano e que aparece como principal abordagem do filme: o preconceito, que, à época retratada, tinha um caráter muito mais nefasto do que atualmente (basta lembrar que, mais de quarenta anos depois, um negro assumiria a Casa Branca). E é nesse embate família negra versus preconceito que reside o elemento dramático mais importante do filme, e a partir do qual será, também, construída a dicotomia do personagem de Poitier, que, uma vez mais ao longo das suas ações, oscila entre o poder sedutor do dinheiro e o apego às tradições.

Com uma câmera estática na maioria das sequências internas no apartamento da família Younger, o diretor Daniel Petrie consegue transpor os conflitos familiares – e as angústias e desejos dos personagens – de um modo profundo, apostando na capacidade artística do elenco ao utilizar longos planos-sequência, com destaque para os diálogos entre mãe e filho, travados por Poitier e McNell. Para além de um filme, O sol é um palco que consagra o talento de uma geração de grandes atores negros americanos, que construindo personagens à luz de temas espinhosos como o preconceito destacaram-se no cenário da arte da interpretação, servindo de referência maior para outros grandes nomes como Richard Roundtree, Denzel Washington, Pam Grier, Samuel L. Jackson, Morgan Freeman, Hale Berry, Spike Lee, Angela Bassett etc.

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