segunda-feira, 30 de março de 2009

Quem quer ser um milionário?

É difícil entender como um filme como Quem quer ser um milionário? tenha sido tão elogiado por público e crítica, tendo arrebatado vários prêmios mundo afora. Só mesmo as diferenças culturais para explicar esse fenômeno, já que, por aqui, a recepção (pelo menos por parte da crítica) não foi tão boa assim. Boa parte do público, entretanto, gostou de ver mais essa exploração de clichês reciclados e devidamente aclimatados.

Levando às telas a história de um garoto indiano prestes a se tornar um milionário por meio da participação em um concurso no melhor estilo “show do milhão”, Danny Boyle, o diretor superestimado de Transpoitting, não consegue impor um filme à altura de seu argumento. Para nós, latinoamericanos, não é surpresa nenhuma ver meninos tendo de se virar para comer o pão – quase negado – de cada dia ou favelas com esgoto a céu aberto e lixo até onde a vista alcança, mas parece haver, lá fora, um fetiche por pobreza (basta lembrar que na favela da Rocinha há excursões ao alto do morro para turistas deslumbrados com as vielas da maior favela da América Latina). Talvez isso explique em parte o sucesso do filme em outras terras. Boyle parece não desenvolver a contento nenhum dos personagens de Quem quer ser um milionário?, fazendo-os marionetes sem nenhum traço de ambiguidade ou complexidade, ante um roteiro repleto de clichês que quer ser inovador e catártico.

A historinha de amor que perpassa o filme não tem a profundidade que a tornaria mais humana e interessante, resumindo-se a diálogos tolos e a uma superficialidade de dar pena. Entretanto, se Quem que ser um milionário? é incipiente com relação ao desenvolvimento dos seus personagens o mesmo não pode ser dito dos atores mirins, que são responsáveis pelos melhores momentos do filme e sustentam a fragmentada narrativa com carisma e boas atuações. Mérito também para a trilha sonora, recheada de deliciosa música indiana e que combina perfeitamente com a fotografia de Dod Mantle e com a montagem ágil de Chris Dickens. Um filme muito eficiente em termos comerciais, mas um tanto capenga pelo viés narrativo.

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